Brasil Luminoso
Brasil Luminoso
ALEGRIA
É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe [...]
Somos um povo que cultiva uma capacidade singular de lidar com as dores da vida sem deixar de celebrá-la e de se alegrar. O samba é uma das grandes expressões dessa capacidade de sustentar a alegria mesmo na tristeza, como diz o clássico de Vinicius de Moraes:
“É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não”
Nossa alegria se alimenta de nosso clima tropical, do hábito de tomar banho de mar e rio, da exposição de corpos a que isso conduz, do gosto por brincar, caçoar, parodiar, festejar.
Em termos de festas, é difícil nos superar. Um pedaço enorme da população brasileira estrutura suas vidas a partir de ciclos do calendário: o carnavalesco, o junino, o dos santos orixás, o natalino. Esses ciclos nos transformam em seres coletivos, empenhados com ardor no mais efêmero dos empreendedorismos, aquele que rala o ano inteiro “por um momento de sonho para fazer a fanstasia”, para usar as palavras de outra canção, essa de Agostinho dos Santos.
É verdade que, no século 21, a Alegria parece não estar muito em alta. Em parte por causa de um fenômeno global, em parte por especificidades que tornam esse fenômeno mais agudo aqui no Brasil, estamos vivendo com índices recorde de depressão e outros tipos de sofrimento mental. É evidente que essa onda de tristeza tem relação com um momento de desconexão com a vida, provocada pelo excesso de ruídos físicos e emocionais que anestesiam nossos sentidos para as belezas que estão ao nosso redor.
Cultivar a alegria hoje é uma forma de resistência – como sempre foi, aliás. Essa resistência fica explícita em projetos como o Saúde e Alegria, criado por médicos e palhaços para levar saúde de barco para os confins da Amazônia. Ou nos Doutores da Alegria, palhaços que entram em hospitais para provar que o Brasil tem cura.
"Viver, e não ter a vergonha de ser feliz
Cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz Ah meu Deus!
Eu sei, eu sei
Que a vida devia ser bem melhor – e será
Mas isso não impede que eu repita
É bonita, é bonita, e é bonita"
- Gonzaguinha
Em O elogio do vira-lata, Eduardo Giannetti enfatiza a importância de resgatarmos nossa alegria:
O vira-lata celebra os valores da amizade, do convívio e da amabilidade sem cálculo; a disponibilidade para desfrutar intensamente o momento; o prazer de sorrir e saudar a todos que com ela ou ele casualmente cruzam nas ruas; a eterna disposição de festejar e brincar, por mais tênue que seja (ou não) o pretexto; o doce sentimento da existência nos climas e ecopsicologias onde o mero existir é um prazer; a experimentação inovadora na arte da vida. Amor sem coleira, trabalho sem patrão. Para o vira-lata, “a alegria é a prova dos nove”.
No atual momento do Brasil, tudo que o status quo quer de nós é que fiquemos imóveis na nossa tristeza e alheios aos anseios da alma. Alegrar-se por ser brasileiro é, portanto, um ato político, pelo qual encontramos dentro de nós a força para alterar a realidade fora. Convidamos você a respirar fundo e embarcar nessa busca conosco.