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CRIATIVIDADE

das gambiarras às expressões mais sofisticadas de arte; dos dribles desconcertantes de Mané Garrincha à batalha do passinho [...]

Âncora 1

Nós, brasileiros, até por precisar, desenvolvemos uma veia criativa que se expressa de muitas formas: das gambiarras às expressões mais sofisticadas de arte; dos dribles desconcertantes de Mané Garrincha à batalha do passinho; dos muros grafitados coloridos do sítio arqueológico do Vale do Peruaçu aos muros grafitados coloridos pelos irmãos osgêmeos, paulistanos do Cambuci.

Nossa criatividade não tem limites razoáveis, como provam nossas escolas de samba. Desfilam milhares de fantasias, centenas de blocos, dezenas de temas e sambas-enredo, que se superam a cada ano na capacidade de contagiar e maravilhar. 

Mas frequentemente o Brasil trata dessa criatividade de maneira hostil. O Brasil é um dos piores países do mundo para empreender e para inovar, impondo infernos burocráticos a quem tenta.

Mas mesmo em infernos, neste país, surgem preciosidades. Pegue como exemplo a arte de Arthur do Bispo do Rosário, gestada em um sanatório psiquiátrico precário e violento.

Nas brechas de um sistema embrutecido, sempre surgiram trabalhos sensíveis, como o da médica Nise da Silveira, que começou a tratar pacientes psiquiátricos com arte em sanatórios do Rio de Janeiro. Usou criatividade como remédio, num projeto de décadas que resultou no Museu de Imagens do Inconsciente, revelando o quanto de vida pulsante há por trás da loucura.

Agora, com a loucura escancarada tomando instituições de poder, será – como já nos perguntou Renato Russo – que “nos perderemos entre monstros da nossa própria criação?”

As sombras que se apossam do país também são manifestações da nossa incrível capacidade criativa. Elas também são expressões do nosso atormentado inconsciente. Tratar nossa loucura passa por restaurar nossa capacidade de imaginar e criar. Passa por proteger e curar a parte de nós que sonha, a criança que nunca deixa de nos habitar.

A cura para as feridas da alma brasileira está em nós mesmos – em olharmos para nós, tirarmos o melhor de nós, criarmos com o que temos. Somos, afinal, compatriotas de Fernando Barba, criador dos Barbatuques, o mestre de fazer música instrumental sem instrumento algum, a não ser o próprio corpo. 

Estamos em luto por Barba e por tantos outros. Mas não há escassez de estrelas brilhando aqui no chão. Tem por exemplo o rapper Emicida, que em seu mais recente álbum, AmarElo, resgata a força regenerativa da vida que nos habita. “Pra que o amanhã não seja só um ontem, com um novo nome”, Emicida nos convoca a falar a partir da nossa própria voz, e não a das nossas cicatrizes. 

Este trabalho de construir outro futuro a partir de cada um de nós tem sido feito de maneira persistente por muitos educadores brasileiros que, há séculos, criam maneiras tupiniquins de cuidar das nossas crianças. Suas histórias foram recentemente resgatadas por um grupo de jovens educadores no livro Educação de Alma Brasileira. Imagine a revolução que pode acontecer se os saberes destes heróis, de ontem e de hoje, forem impulsionados e transformados em um jeito brasileiro de educar?

Carl Jung, professor de Nise e precursor na investigação do inconsciente coletivo de um povo, afirmou que “a mente criativa age sobre algo que ela ama”. Estas palavras reforçam a nossa convicção de que o amor ao nosso país é o ponto de partida para recriá-lo.

E você, o que é que sente, lá no fundo, por nosso país? E que país dá para criar a partir desse sentimento?

Outras referências sobre a Criatividade

Batalha do Passinho

A Transformação da Várzea Queimada

VIRTUDES
CRIATIVIDADE
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