top of page

BRASIL

LUMINOSO

Um chamado para apostarmos nas virtudes brasileiras.

Ouça o manifesto!

00:00 / 07:34

Havemos de amanhecer.

Carlos Drummond de Andrade

O Brasil é uma expressão viva da riqueza que há na diversidade humana e natural. Somos abençoados por viver em um dos mais abundantes ambientes do mundo e por sermos herdeiros de uma variedade incomparável de cores, de jeitos, de fazeres, de sabores e saberes. Celebramos a vida e a ela nos misturamos com prazer, fazendo vibrar tons musicais que embalam gente do mundo todo.

 

Mas também somos um povo marcado por feridas e traumas coletivos antigos, que arrastamos sem encarar desde os tempos coloniais, que tiraram os povos originários de suas terras e ocuparam a nação com mão-de-obra de africanos escravizados. 

 

Essas feridas profundas abriram todas nestes últimos anos, sob a luz crepitante do fogo da floresta, no atoleiro de lama e óleo das tantas desgraças ambientais, entre os escombros do Museu Nacional, com o horizonte pontuado de túmulos de tanta gente que morreu sem precisar, de doença, de violência do Estado, de pobreza. Mais uma vez, a conta tem sido mais alta para os povos tradicionais, os pretos, as mulheres, os que não se enquadram nos papéis típicos de gênero, as crianças, as periferias, as florestas.

 

A intensidade da dor sentida nos torna mais conscientes da escolha que temos a fazer:  continuaremos sendo arrastados por forças que nos corrompem de todo lado, na política, na economia, nas religiões? Ou teremos a coragem de nos responsabilizarmos por nosso destino? 

 

A maior crise pela qual já passamos não é apenas sanitária, nem política, nem econômica, nem ambiental. Nossa crise fundamental é existencial, de valores. Dessa crise derivam todas as outras. O Brasil ainda não se conhece, e isso significa que para seguirmos adiante precisamos entrar em contato com nossa realidade interior.

 

Como vêm confirmando os estudos genéticos, nossa população é em grande parte formada por descendentes de homens colonizadores e mulheres indígenas e negras. Somos filhos de pais ausentes e mães cuja existência foi negada e calada. Esse abandono está na origem da desigualdade, da ignorância sobre nós mesmos e da violência que sentimos desde sempre, mas agora de maneira tão aguda. 

 

Num vídeo recente, Caetano Veloso, entre lágrimas, conclamou: “Tem que vir uma resposta da alma brasileira à situação que estamos vivendo”. Concordamos com ele e por isso estamos aqui fazendo esse manifesto.

 

É urgente tratar essa ferida que nos cinde a alma. E não há outro jeito de curar o abandono que não seja com acolhimento: reconhecer as dores, injustiças e violências que ainda perpetuamos para, em conjunto, podermos iniciar uma nova fase, mais justa, consciente e restauradora. 

 

As tensões que sentimos em nosso corpo social contém forças criativas que precisam ser liberadas para, como bem resume o dito popular, transformarmos a dor em amor. É preciso que nos aceitemos e nos reconheçamos como membros de uma mesma comunidade. Pertencemos a um mesmo território, formamos um só povo e juntos temos uma história para contar. 

 

Acreditamos que o maior recurso de que o Brasil dispõe é a potência expressa nas virtudes que constituem este país. Virtudes que expressamos de muitas formas, como o afeto presente nos  abraços calorosos e na profusão de beijinhos - três para casar. Como a alegria de reunir, festejar e pular por quatro dias, se preciso for. E a criatividade, evidente tanto nas expressões artísticas que encantam o mundo quanto no famoso jeitinho que encontra solução para quase tudo. A , de várias matrizes, que nos dá força para seguir adiante. A flexibilidade que se expressa com o jogo de cintura numa boa roda de Capoeira. A gentileza que gera gentileza, único meio de formar um país a partir do encontro de tantos povos de origens tão diversas. A irreverência que nos permite  resistir, mesmo oprimidos por tudo isso. O senso de comunhão de uma roda de Chimarrão, de Ciranda ou de Samba. A simplicidade com a qual sertanejos, ribeirinhos, amazônidas, tropeiros, pantaneiros, quilombolas, caiçaras e periféricos se mantém ligados ao que é mais essencial à vida. É da valorização dessas características que nos tornam únicos que virá a força de que precisamos para mudar.

 

Nosso chamado é para que juntos e juntas nos dediquemos a alimentar essas virtudes da alma do povo brasileiro. Afinal, nesta terra, como os habitantes nativos dela sempre souberam, e também como Pero Vaz de Caminha registrou logo na primeira carta escrita, o que se cultiva germina.

 

O Brasil é maior do que nossas diferenças, do que nossas sombras, do que nossos medos: ele é imenso. É desse lugar de grandeza que queremos apreciar o que nos distingue uns dos outros não como obstáculos, mas como riquezas que se complementam. Tanto potencial nos impõe uma responsabilidade diante de toda a humanidade, de encontrar um caminho de regeneração, que sirva ao planeta todo.

 

É bom lembrar de Nelson Mandela, outro que lidou com uma grande crise existencial nacional. Em seu discurso de posse, citando Marianne Williamson, ele disse: “é a nossa luz, não nossa escuridão, que mais nos assusta”. Não é a primeira vez na história que um povo tem diante de si a tarefa de vencer as forças que assombram seu passado em busca de luz suficiente para iluminar o futuro. 

 

Chegou a hora de sairmos desta paralisia, de reunirmos o que temos de melhor em nós, e apostarmos na nossa capacidade de criar outro futuro. Há um Brasil luminoso a ser revelado pela soma dos nossos brilhos. Declaramos neste manifesto o compromisso de realizar esta caminhada, e este é um convite aberto a qualquer pessoa que ame este país. Para que nossas vozes possam ressoar juntas o chamado da alma brasileira.


Que eu tenha coragem de me enfrentar.

Clarice Lispector

Âncora 1

Mais de 700 pessoas já assinaram, assine você também!

Ana Letícia Maciel (SP) | André Caldeira (PR) | Antonio Alves (AC) | Alberto Tavares (AC) | Augusto Júnior (CE) | Alexandra Reschke (DF) | Américo Córdula (SP) | Ana Marina de Castro (DF) | Antônio Brennand (PE) | Beatriz Grein Loures Bueno Macri (PR) | Benjamim Taubkin (SP) | Bernardo Quintão (PR) | Caetano Scannavino (PA) | Camila Godinho (BA) | Carlinhos Ferreira (MG) | Cássio Ricci Azevedo (SP) | Célio Turino (SP) | Cesar Matsumoto (SC) | Christina Carvalho Pinto (SP) | Clarissa Daroit (RS) | Claudia Costin (RJ) | Claudio de Moura Castro (MG) | Cristina Pinheiro (RJ) | Dalvinha Correia (PE) | Dane de Jade (CE) | Daniel Annenberg (SP) | Daniel Munduruku (PA) | Daniela Duarte Carmo (SC) | Daniely Votto Fontoura (RS) | Daviane Chemin (PR) | Dario Neto (SP) | Del Mar Franco (SP) | Denis Russo Burgierman (SP) | Diego Casaes (SP) | Dorian Guimarães (SP) | Duda Alcântara (SP) | Edgard Gouveia (SP) | Eduardo Rombauer (GO) | Eduardo Sampaio (SP) | Eduardo Xavier (MG) | Eleilson Leite (SP) | Estevão Ciavatta (RJ) | Fabio Brotto (DF) | Fabio Rosé (SP) | Fernanda Ebert (SP) | Genesson Honorato (RJ) | Graziela Merlina (SP) | Guilherme Aranha Coelho (SC) | Gustavo Tanaka (SP) | Heloisa Biscaia (RS) | Heloiza Leme (SP) | Heloisa Menezes (DF) | Hiran Castelo Branco (SP) | Iara Xavier | (MG) Ilona Szabó (RJ) | Irineu Toledo (SP) | Isabela Crema (DF) | Isabella Prata (SP) | Janaína Jatobá (PE) | João Paulo Pacífico (SP) | José Carlos Ribeiro de Oliveira (SP) | José Cesar Martins (RS) | José Ricardo Roriz Coelho (SP) | Kaká Werá Jecupé (SC) | Lala Deheinzelin (SP) | Laura Gurgel (BA) | Luma Athayde (GO) | Marcel Fukayama (SP) | Marcela Moraes (SP) | Marcelo Cardoso (SP) | Marcia Joppert (DF) | Marcio Black (SP) | Marco Dalpozzo (RJ) | Marco Ornellas (SP) | Marcos Woortmann (DF) | Maria Cristina do Nascimento (SP) | Maria Eugênia Tita (PB) | Mariana Belmont (SP) | Mariana Lacerda (PE) | Marina Feffer (SP) | Morgana Masetti (RJ) | Muriel Magalhães Machado (RJ) | Nelson Paura (RJ) | Newton Cannito (SP) | Nina Valentini (SP) | Manoela Soares de Araújo (SC) | Marlon Reis (TO) | Paola de Orleans e Bragança (SP) | Rafael Poubel (DF) | Rafael Urquhart (RS) | Ralph Justino (MG) | Rangel Mohedano (SP) | Ricardo Catto (SP) | Ricardo Cury (SP) | Ricardo Glass (SP) | Ricardo Guimarães (SP) | Ricardo Schrappe (PR) | Rivane Neuenschwander (MG) | Roberto Crema (DF) | Roberto Gambini (SP) | Rodrigo Lacerda (SP) | Rodrigo Rocha Loures (PR) | Rosa Alegria (SP) | Rosana Rodrigues Costa Funari de Castro (SP) | Rosangela Ariele Bacima (SP) | Rose de Paula (SP) | Ruth Maria Scaff (DF) | Ryoichi Penna (MG) | Sadi Vignatti (RS) | Samuel Emílio (MG) | Sérgio Mamberti (SP) | Sergio Xavier (PE) | Sidarta Ribeiro (RN) | Simone Hain Venâncio (PR) | Soraia Melchioretto (PR) | Stephanie Crispino (SP) | Talita Montiel (SP) | Tânia Kulb (SP) | Thais Corral (RJ) | Viviane Amarante (SP) | Wans Spiess (SP) | Wellington Nogueira (SP) | Wilson Nobre (DF) | Yasodara Cordova (DF).

bottom of page