top of page
IMG_0561.png

SENSO DE 
COMUNHÃO

das rodas de chimarrão às de capoeira, das escolas comunitárias às de samba, dos pagodes aos saraus de poesia da periferia, dos terreiros de candomblé aos movimentos cristãos.

Âncora 1

Ao chegarem aqui, os portugueses encontraram um paraíso. Imagina: a Mata Atlântica da Bahia, os papagaios, os macacos, aqueles frutos enormes, aquela areia branca. Não havia senso de posse sobre a terra, sobre os bens, sobre os corpos. Não havia também a noção de que as pessoas eram separadas da natureza – elas eram parte do ciclo da vida, e seus espíritos passeavam entre diferentes espécies de animais ao longo da eternidade da existência dos ecossistemas.

Até hoje, muitas destas raízes estão firmes no chão: nas aldeias indígenas e nas outras comunidades que vivem há séculos nos ambientes naturais que ainda restam, em comunhão com eles.  São comunidades nativas ou de descendentes de escravos libertos ou fugidos, ou de imigrantes de todos os cantos do mundo, que não nos deixam esquecer de nossa alma. Hoje, no meio do maior florescimento de nossa história da literatura, da filosofia e da arte de indígenas e de negros, podemos beber dessa comunhão por meio de livros, músicas, obras ou lives.

Este senso de comunhão advindo das nossas raízes transpira em tradições diversas: das rodas de chimarrão às de capoeira, das escolas comunitárias às de samba, dos pagodes aos saraus de poesia da periferia, dos terreiros de candomblé aos movimentos cristãos. Cada uma dessas é uma história viva de resistência a um movimento que parece querer nos desconectar.

Há inúmeros episódios que retratam como a origem comunitária do Brasil foi, desde o início, violentamente combatida por quem queria ser dono das coisas. Um caso emblemático desta ferocidade foi Canudos. Uma comunidade de fé motivou uma invasão do Exército – não uma, nem duas, nem três, mas cinco expedições, que só sossegaram quando não havia mais nada ali além de ruínas e cadáveres. Felizmente sobrou também o registro literário e jornalístico de Euclides da Cunha. 

São histórias que explicam uma dolorosa ferida em nossa alma: a da orfandade. Os primeiros filhos da miscigenação foram gestados por mulheres cuja própria alma era tida como inexistente. Sem saber quem eram seus pais, também não sabiam qual era seu país. 

É por isso que a voz de Renato Russo ecoou tão forte em sua geração, quando nos perguntou: “que país é esse?”. Essa pergunta permanece sem resposta. Que país é esse ao qual todos nós pertencemos? 

 

Claro que essa lacuna em nossa estrutura nos torna emocionalmente inseguros. Ficamos sem saber ao certo quem somos e onde estamos, querendo agradar, sublimando a raiva. Por isso, quando um de nós encontra uma veia para pertencer, abraçamos de corpo e alma: o time de futebol; a escola de samba, o terreiro, o partido, a cidade, a religião … quando é pra ser parte de algo, tendemos à intensidade. 

 

Mas já passou da hora de expandirmos nossas experiências de comunhão para além de nossos pequenos círculos. Sentir-se pertencendo a um povo é o que nos dá força de ignição para agir em defesa de quem somos, do que temos, de nosso futuro. Por mais que seja verdade que cada um de nós viva o seu Brasil, existe também uma unidade Brasil, na qual estamos todos imersos, e dele somos todos – ao menos potencialmente – cocriadores. E desta unidade que precisamos cuidar.

A escritora Clarice Lispector, uma tradutora das profundezas da alma humana, retratou esta fundamental sede de pertencer que nos habita desde o início da vida:

"Tenho certeza de que no berço a minha primeira vontade foi a de pertencer. 

Por motivos que aqui não importam, eu de algum modo devia estar sentindo que não pertencia a nada e a ninguém. Nasci de graça.”

Há virtudes que se espalham com maior facilidade, como a gentileza e a alegria. Já o senso de comunhão se constrói num outro tempo, como um arco que lança flechas que nos atravessam pelas gerações. Dia após dia, vamos criando uma liga firme, indestrutível, que renova o sentido do viver e nos dá força e coragem para navegarmos juntos.

Podemos ainda não saber ao certo que país é esse. Mas sabemos que esse é o nosso país. O que queremos fazer dele? A resposta começa por, parafraseando Emicida, reconhecer que “tudo o que nós tem é nóis”. Ou tem algo mais?

Outras referências sobre o Senso de Comunhão

Escute e cante esta inspiradora canção do Pagode da 27 –  É o Povo na Cabeça:

Impossível não vibrar com a comunidade de Catolé do Rocha, onde nasceu Chico Cesar, no videoclipe de “Mama África”:

Os Saltimbancos fizeram história no teatro infantil, trazendo uma mensagem de pertencimento:

VIRTUDES
SENSO DE COMUNHÃO
SIMPLICIDADE
bottom of page